As guerras mundiais nem sempre são assuntos corriqueiros do nosso dia a dia, no entanto quando dois autores decidem trazer à tona assuntos por vezes esquecidos na História Militar do Brasil, repercute de tal forma que em menos de um ano a obra é indicada a três prêmios nacionais. No livro ‘A história do Brasil nas duas guerras mundiais’ os leitores irão se deparar com questões de espionagem, mesmo que pareça algo distante para os brasileiros, ou até coisa de filme, o Brasil teve sim espiões nazistas, com uma célula em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Outro fato bastante desconhecido, foram as mudanças nos hábitos alimentares dos pracinhas brasileiros quando partiram para a segunda guerra mundial, e se viram obrigados a se adaptarem à comida americana, bastante diferente da brasileira.
Um dos autores do livro ‘A história do Brasil nas duas guerras mundiais’ é o professor Carlos Daróz, especialista em História Militar e docente, desde 2008, no curso de pós-graduação em História Militar da UnisulVirtual. O professor conta como surgiu a ideia do livro. “Em uma conversa com a renomada escritora brasileira Mary Del Priore, que está à frente de um projeto de coletâneas sobre histórias do Brasil, como a história do crime no Brasil, história da violência no Brasil, história da mulher, dentre outros, Mary me disse que sentia falta na nossa literatura da História Militar Brasileira, mas que abordasse as duas guerras mundiais. Foi aí que decidimos fazer este trabalho juntos”.
Daróz destaca que a participação do Brasil na segunda guerra é bastante conhecida, mas em relação à primeira guerra a memória é muito pequena. Então era necessário falar das duas guerras, para recuperar essa memória. Para realizar este trabalho mais completo, “convidamos autores que já são filiados à História Militar para escrever artigos e organizamos da seguinte forma: são cinco artigos na primeira parte do livro, abordando a primeira guerra, e a outra parte mais cinco artigos contando a história da segunda guerra. Decidimos também convidar autores de diversas formações como historiadores, diplomatas, jornalistas para ter uma abordagem interdisciplinar”, explica o autor.
A organização do livro demorou cerca de dois anos, entre pesquisa, escrita, contatos com os colaboradores e revisões. “Os autores pesquisaram em acervos variados, por exemplo, há um capítulo sobre espionagem, no qual os autores pesquisaram em arquivos do DOPS. Também foram realizadas pesquisas na Biblioteca Nacional, no Arquivo Nacional, em jornais de época, no Arquivo Histórico do exército, no Museu Aeroespacial, no Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica, na Diretoria do Patrimônio e Documentação da Marinha, fontes no exterior, na Força Aérea Britânica, no Arquivo Nacional de Cabo Verde, dentre outros”, ressalta.
A obra possui 10 capítulos que ajudam ao leitor recuperar a memória da participação do Brasil nas duas guerras mundiais. “Estes artigos pretendem preencher a lacuna ainda sentida na bibliografia relativa à temática, contemplando ângulos raramente explorados do envolvimento brasileiro nos combates, como a geopolítica, a economia, a espionagem, o desenvolvimento de instituições militares e o próprio cotidiano dos soldados no calor da batalha. Apesar da falta de experiência para atuar no front, o Brasil foi o único país da América do Sul a enviar contingentes para as duas grandes guerras. Em ambas ocasiões, o país posicionou-se inicialmente neutro, mas foi conduzido à beligerância quando diversos de seus navios mercantes foram afundados por submarinos alemães, na Primeira Guerra Mundial, e alemães e italianos, no segundo conflito”, comentam os organizadores.
Carlos Daroz é pesquisador em História Militar há vinte anos, para ele este campo de estudo ainda em fase de consolidação no Brasil, que encontra muitas resistências. “Isso pode ser observado se considerarmos que, em todo o país, existem apenas dois cursos de pós e um deles é o da Unisul. Mas não existe nenhum Mestrado e Doutorado da História Militar do Brasil”, ressalta.
“A história do Brasil nas duas guerras mundiais’ foi indicado aos prêmios
Prêmio Jabuti 2020, na categoria Ciências Humanas. O mais importante prêmio literário do Brasil;
6º Prêmio ABEU-Associação Brasileira das Editoras Universitárias, na categoria Ciências Sociais;
Prêmio Biblioteca Nacional 2020, na categoria Ensaio Social.
Sobre os organizadores Carlos Daróz é historiador, professor, pesquisador e escritor. Doutorando em História Social (UFF), é especialista em História Militar, mestre em Operações Militares e em História. Colaborador do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB), é autor de diversos artigos e livros sobre a temática. Mary Del Priore é doutora em História pela Universidade de São Paulo (USP). Lecionou História na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. Publicou, pela Editora Unesp, Ao sul do corpo (2009), História do esporte no Brasil (2009),História do corpo no Brasil (2011), História dos homens no Brasil (2013) e História dos crimes e da violência no Brasil (2017). Em 1998, recebeu os prêmios Jabuti e Casa Grande & Senzala pelo livro História das mulheres no Brasil (1997). Mais informações sobre o livro e como adquirir: http://editoraunesp.com.br/catalogo/9788539308200,a-historia-do-brasil-nas-duas-guerras-mundiais
Comments